terça-feira, 6 de abril de 2010

João Melo

João Melo é um personagem provinciado que se acha o máximo, mas sente-se modesto. Acredita piamente em sua capacidade de conduzir a humanidade a dias melhores e tem projetos grandiosos. Não vê possibilidades de sobrevivência da civilização Ocidental sem sua direta interferência. Ei-lo:

“Coisas aparentemente definitivas a meu respeito têm sido escritas neste espaço. Gostaria de absorver elogios com a simplicidade dos homens comuns. Aceitá-los com certa humildade e gozar alguns instantes do nebuloso prazer de pertencer à espécie humana. A sinceridade, no entanto, tem sido uma companheira voraz de meus momentos de reflexão. Concluo, pois, que estou além, bem adiante, muito acima dos
competentes comentários de qualquer discípulo involuntário. Mesmo os daqueles que me erguem altares como armadilhas.

Dizer que não pertenço a este mundo é pouco. Explicar porque gasto meu precioso tempo escrevendo para jornais de segunda linha é tarefa para póstergos. Caberia, então, um resumo de meus atos mais recentes. Um deles: finalmente conclui uma nova versão da Bíblia, trocando aquele senhor de barba pelo autor destas linhas. Claro, tirei a cruz da história por um certo horror a símbolos matematicamente óbvios e filosoficamente primários. O certo é que o Cristo não morre para nos salvar. Ele, assim como João Melo, continua em cena, nos dias de hoje, dando uma força aqui e ali em um mundo tão escasso de boas idéias. Tratei a coisa como um ensaiozinho de fim de semana, mas o número de seguidores do novo texto (novíssimo testamento) tem crescido de forma assustadora.

Mas não quero, como sugerem algunns, ser líder religioso. Meu negócio é outro. Algo ainda não encontrado. A verdade com orgasmos múltiplos. O sentido da vida em seis dimensões (o modelo está sendo testado em Genebra), o poder de influir, num mesmo minuto, na organização de um formigueiro, na cotação do dólar, no juízo final (não confio naqueles advogados) e na conformação dos planetas. Enfim, o universo tem ficado cada dia menor para meu atual estado de espírito. Dividirei tudo com vocês, caros leitores, e ainda ficará algo infinito só para mim. Mas tudo tem seu custo. Deus tem sido testemunha dessas minhas aflições e não por acaso passa por uma terrível crise depressiva. Ajudo-o como posso. Do seu,

João Melo”.


_lulafalcao

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