sábado, 8 de maio de 2010

O analógico

Meu amigo analógico está irritado com o twitter. Pergunta: por que uma multidão ao redor do mundo passa horas à frente do computador digitando frases, contando suas vidas, reproduzindo e comentando notícias, pregando em nome de Deus e do diabo, divulgando ações e atos, reproduzindo pensamentos próprios e alheios ou simplesmente afirmando que existe? Qual o sentido de tudo isso? O que significam #FF, following, followers, retweets, hashtag ,migre-me, #botequimtuitajoaquim etc? Por que isso precisa existir

Acima de tudo, ele não entende por que as pessoas gostam dessa forma de comunicação. Por que não leem e conversam pessoalmente?

Dedicado aos livros (aqueles de papel), meu amigo analógico adora Umberto Eco. Cita um texto do pensador italiano, de 2003 (“Muito Além da Internet”). Adapta ao twitter uma preocupação de Eco em relação à Rede em geral e afirma que escrever no microblog reduz o poder do pensamento “ao fornecer aos seres humanos uma alma petrificada, uma caricatura da mente, uma memória mineral”.

Na época de Platão, o simples ato de escrever era uma inovação tecnológica, insisto, também recitando Eco. Não há acordo: ele continua analógico; eu continuo no twitter. Chegamos apenas a um ponto em comum (provisório) a respeito de um aspecto mencionado pelo autor de “O Nome da Rosa”. Segundo Umberto Eco “há numerosas criações tecnológicas que não tornaram obsoletas as anteriores. Carros correm mais do que bicicletas, mas não tornaram obsoletas as bicicletas...” Ou seja: livros e conversas no bar da esquina não serão extintas por enquanto.

Em tempo: Umberto Eco tem um perfil falso no twitter, sem uma linha escrita, mas mesmo assim com mais de mil seguidores.

_lulafalcao

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