O repórter gordo e pálido costumava freqüentar o baixo meretrício do Recife. Garantia, no entanto, nunca ter estado com uma puta. Ao que tudo indica também nunca namorou até por volta dos 40 anos. Parecia não se preocupar com a solidão naquele final dos anos 70, em que o sexo era praticado sem culpa ou grandes riscos. Vivia para o trabalho, embora fosse um daqueles repórteres esquecidos no canto da redação. Ganhava pouco, comia pouco, bebia muito. Cheirava a álcool, embora raramente fosse visto embriagado. Em 1976 seus hábitos eram tolerados. Mesmo porque ele parecia um ser quase invisível a levar uma vida sem graça. O repórter, porém, adorava viver e passou a adorar muito mais no dia que o diretor de redação, num gesto digno dos 70’, resolveu dar-lhe uma coluna de presente. Ganhou um espaço para falar das putas e do submundo da cidade. Também se arriscava em temas mais áridos, como o controle de preços feito por um órgão governamental chamado SUNAB. Sim, naquele tempo havia uma repartição do governo para tentar frear a inflação. Não deu certo, claro. Mas lá foi Mamão escrever sobre o assunto. O lead: “Pela terceira vez consecutiva aconteceu um fato inédito: a SUNAB perdeu a paciência”. Houve risos. Ele pensou que havia escrito algo muito engraçado. Era engraçado. Era trágico. Era triste. Mas chefe de redação gostou e manteve sua coluna, que só acabou no dia em que O Diário da Noite fechou suas portas para sempre.
Imagino o repórter trabalhando num desses sites de notícias de hoje.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
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Um comentário:
Achei muito bom!!!
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