O antropólogo Roberto DaMatta enxerga a paixão pela seleção brasileira de forma bastante positiva. Para ele, a simbologia da bandeira e das camisas, além do orgulho justo de sermos os melhores do mundo nessa arte, ajudam a criar, durante o torneio, um clima em que se dissipam diferenças políticas e econômicas e até diferenças morais e de idade. DaMatta celebra o País do futebol, mas como está vendo atual da Copa do Mundo? Por suas recentes entrevistas e artigos, nada mudou.
Claro que a corrente pra frente permanece intacta, mas pela primeira vez em muitos anos notam-se mudanças de comportamento mesmo entre fiéis torcedores. É estranho observar, por exemplo, a quantidade de pessoas usando a camisa da Argentina, pelo menos em São Paulo. Num dos últimos treinos da seleção, na “concentração de segurança máxima de Dunga” (termo do Cassete&Planeta), a decisão de impedir a entrada dos torcedores provocou um coro de louvação ao nosso vizinho rival. Uma parte, obviamente, está apenas irada com a não convocação de Ganso e Neymar (garantia de futebol-arte?); outra pode estar descontente diante de uma recidiva da Era Dunga.
No twitter, muitos despejam desilusões sinceras contra a convocação feita por treinador. Alguns revelam claramente a decisão de não torcer pelo Brasil. Parece que existe, numa parcela da sociedade, um desejo mais importante do que o de vencer. Uma ânsia por vencer mostrando algo que tornava o futebol brasileiro diferente dos outros. Há um clamor que sai do esporte e chega ao espetáculo, pedindo mais show de bola do que eficiência tática.
Mas o pior está por vir: os brasileiros na Copa. Andarão em bandos, barulhentos e mal educados, como donos da África do Sul. Fosse a Copa realizada no deserto de Gobbi ou na Nova Zelândia, eles estariam do mesmo modo em casa. Claro que não se trata da maioria. Mas é o que a TV mostra – e a Globo não vai entrevistar alguém tomando calmamente seu vinho num pub de Johanesburgo enquanto espera o momento do jogo. A TV quer alegria, cornetas, barulho. Só que essas horas darão a alguns a sensação de que todos os nossos babacas viajaram e estão diante das câmeras, mostrando cartazes do tipo “filma nóis, Galvão”. As cenas se repetirão com o mesmo figurino das mulheres e suas calças jeans apertadas, salto alto e camisa customizadas à baby look.Os homens, exibindo barrigas de chope e bermudas com listrinhas do lado.
Há um clima esquisito. Para o bem ou para o mal, ainda não se sabe. A manifestação popular que, segundo DaMatta, tornou-se um elemento integrado na nossa paisagem social e mental, apresenta nesses dias uma cara mais fechada e mais crítica. Vamos conferir se tais sentimentos duram até a abertura da Copa ou se, como sempre, estaremos diante da TV, nos descabelando a cada 90 minutos de jogo.
_lulafalcao
quarta-feira, 26 de maio de 2010
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Um comentário:
kkkkkkkkkkkkkk
Estão todos nervosos e estarão todos descabelados quando tudo começar. O que de pior pode vir é o fato da gente morrer de rir quando aparecerem os "brasileiros em copa" pela TV.
A melhor coisa a fazer agora,meu querido Lula; é arrumar sua malinha e correr para o Recife porque seus amigos estão comprando TVs de 50 polegadas e alugando telões.
Corra Lula,corra.
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