quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ariosvaldo, o político de centro

Não é fácil ser de centro no Brasil de hoje. A maioria dos partidos se declara de esquerda e mesmo parte da direita também aderiu ao esquerdismo, vide José Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho. Nesse cenário confuso, a figura esquálida de Ariosvaldo D’Almeida, líder do Partido do Centro Democrático (PCD), é quase uma exceção. Diplomado em Letras, ele teve a sorte de herdar uma padaria do pai. Caso contrário teria dificuldades até de arranjar emprego. Cargo comissionado, então, nem pensar. “Ninguém confia na gente”, lamenta. “Além disso, nossas bandeiras são quase todas confiscadas pela direta ou pela esquerda quando chegam ao poder”, acrescenta. Ariosvaldo é o terceiro entrevistado da série de candidatos cujos partidos não conseguiram registro no TSE.

Por que o centro?

Já me fizeram essa pergunta várias vezes e sempre digo que é uma posição de equilíbrio político e bom senso. Mas não acreditam. Sempre afirmam que estamos em cima do muro. Outro problema é a falta de charme. A esquerda, por exemplo, tem até hino – a Internacional. A direita tem o Reinaldo Azevedo. Nós não temos nada. Nem um discurso inflamado podemos fazer. No centro tudo é bem comportado. Não acusamos ninguém e ninguém nos acusa. Na verdade, somos ignorados. O centro é um tédio.

Por que então o Sr permanece no centro?

Sou assim desde criança. Fui um menino moderado. Nunca amei ou detestei ninguém. Nunca bebi, fumei ou usei drogas nem critiquei com veemência quem fazia essas coisas. Passei a vida sem ser notado. A família também era assim. Minha mãe ficava repetindo frases típicas do centro: “nem oito nem 80”, “nem tanto ao nem tanto a terra”. Essa era a ladainha da minha casa.

Qual a importância do centro hoje?

Quase nenhuma. A Internet retrata bem nossa situação. Enquanto a Wikipédia usa 759 caracteres para nos definir – e, pior, para nos comparar ao PMDB -, a esquerda tem 5.118, sem contar os inúmeros links. Já a direita é dona de 7.854 caracteres.

Quais os grandes teóricos do centro?

Sempre que citam alguém, ele é puxado para a esquerda ou para a direita. É o caso de Joaquim Nabuco. A direita ficou com seu lado monarquista. A esquerda pegou o abolicionista. Talvez nosso melhor nome seja François Bayrou, da França, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das presidenciais de 2007, detonado por Nicolas Sarkozy (direita) e Ségolène Royal (esquerda). Para fazer jus à sua posição política, Bayrou preferiu não dar orientação de voto a seus eleitores. No Brasil, um dos poucos homens de centro que conheço é o Dunga. Com ele não tem esse negócio de defesa ou ataque. É todo mundo no meio de campo.

@_lulafalcao

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