@ Viajei. Uma viagem incomum, no meu caso. Dessas de um lugar para outro. Ônibus, paisagens, rodoviária. Nada de drogas. Pelo menos por enquanto. Fazia tempo que não saia de casa, mas cá estou, numa cidade estranha, fugindo de mim mesma e atrás de alguém que conheci no twitter. Nem sei se é homem ou mulher, mas não estou em condições de exigir muito. O nome dele (a) é @I-Toy. No momento é o que basta.
@ O problema: @I-Toy não me esperava. Peguei um táxi e me instalei num hotel duas estrelas, com banheiro coletivo e uma estranha placa de advertência no quarto: “É proibido cuspir no chão, limpar o pau na cortina e matar pernilongo na parede”. Acho que parei num puteiro. Agora é tarde.
@ O quarto: cheiro de mofo, uma Veja de 1989 jogada no Chão, torneira pingando, cama precária e uma TV de 16 polegadas. Banda larga, nem pensar. A boa notícia: o canal privê só com clássicos do gênero, vintage total. Rever John Holmes, no auge, vale a passagem. Mas, cadê o @I-Toy? Ligo para o celular que a figura me passou por DM. Fora de área.
@ A sensação de que @I-Toy não existe vai se tornando cada vez mais forte. Com esse nome, talvez nem seja uma pessoa, mas uma coisa, um robozinho que tuíta ou um novo lançamento da Apple. O jeito é sair por ai até encontrar um porto seguro, ou seja, uma Lan House. Nessas horas, não adianta reclamar, você tem que aproveitar o que Deus lhe deu - essa vida de merda – e manter o foco. Agora eu pergunto: que foco?
@ Lan House: para minha surpresa @I-Toy aparece na timeline, cheio de desculpas. Promete me encontrar às 14h30, depois da depilação. Penso: é mulher. Mais tarde, descubro a verdade: @I-Toy é um traveco.
@ Finalmente juntos, eu e @I-Toy, iniciamos o delicado jogo do amor. Primeiro peço para ele se livrar da gilete. Topo tudo, mas assim é demais. Conversamos um pouco e me vejo diante do impensável para uma figura tão submundo: @I-Toy é um intelectual refinadíssimo, daqueles que a gente só vê no Café filosófico, da TV Cultura. Numa tarde, me ensina tudo sobre Giles Deleuze. À noite, me encaminha aos segredos da literatura erótica do século 19.
@ Foi bom enquanto durou. Volto pra casa abatida, desencantada da vida, depois que @I-Toy me dispensou sob a desculpa de que tem uma tese de doutorado pra escrever. O ônibus me leva ao inevitável – um apartamento em ruínas. Com pouco dinheiro, vou ao supermercado. Levo uma garrafa de 51 e um limão só pra pensarem que vou fazer caipirinha. Mas detesto bebida com frutas. Como evito beber de manhã, espero pelo início da tarde. Ainda bem que já são 11h59.
@_lulafalcao
terça-feira, 20 de julho de 2010
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