@ Estava no muquifo suburbano, sem eira nem beira, matando cachorro a grito, comendo o miojo que o diabo amassou, quando o celular deu sinal de vida. Boa notícia: trampo. Um amigo perdido no espaço e no tempo virou empresário e me chamou para o único trabalho que, de fato, sei fazer: tuitar. Em nome de um sex shop, no centro. Minha função será divulgar os produtos com certo molho erótico-filosófico. A grana não é lá essas coisas, mas o importante é fazer o que se gosta, não é mesmo? Só tenho que não misturar diversão e trabalho, pois pesquisei o portfólio do estabelecimento e descobri uma série de utensílios que merecem um test-drive. Conheço razoavelmente o ramo de vibradores e afins. Então não fui chamada só porque sou amiga do cara. Tenho currículo.
@ No primeiro dia de trabalho, travei. O que escrever sobre uma vagina artificial, sem mulher em volta, e ainda por cima feita com material de segunda linha? Quem em sã consciência faria sexo com aquilo sem perder o respeito próprio ou o senso de ridículo? Depois pensei com calma, revirei meu passado, lembrei que já tinha feito coisa pior, e passei a ver o negócio com outros olhos. O mercado, meus lindos, não é chegado a dramas morais.
@ Preciso de uma estratégia vendedora, como se diz no mundo corporativo. Então, nessa perspectiva, tenho que agregar valor à xota de borracha dando-lhe significados mais nobres e salientando suas vantagens em relação ao similar humano. Quais? Ora, as de verdade costumam ter donas que reinam sobre seu funcionamento, nem sempre preciso. Aqui, não. O entra-e-sai ocorre sem preocupações com o dia seguinte. Prazer garantido ou o seu dinheiro de volta.
@ Para pensar assim, preciso abstrair um bocado de coisas, mas nesse momento o mais importante é vestir a camisa da empresa, pagar o aluguel atrasado e cair fora do muquifo. Como disse o Jarbas Passarinho (cito cada um), "às favas todos os escrúpulos de consciência”.
@_lulafalcao
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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