@ Até agora não entendi o amor e por isso algumas pessoas acham que sempre substituo sentimentos por prazeres imediatos. Mas queria que vocês pensassem um pouco sobre o significado de alguém ficar inteiramente baqueado em função do outro - a ponto de perder a fome e às vezes a vida. “É porque você nunca se apaixonou”, dizem. Se provoca tantos sintomas ruins, como uma dengue, deus me livre. Acho até que já aconteceu comigo, mas nunca dessa forma tão drástica. Gostei de ficar com outros e outras e quando foram embora, ou eu fui, tratei a situação como quem muda de assunto. Sem choro nem vela. Já tomei rivotril por coisas banais. Nunca por amor.
@ O amor pode ser uma coisa que não nasceu com a pessoa. O amor romântico - e isso eu vi no Google - só existe há uns 800 anos. Quer dizer que antes disso ninguém se apaixonava no sentido em que conhecemos hoje. Então, foi criado como uma espécie de marca que, concordemos ou não, pegou. Como o twitter e a Smirnoff. O negócio, lá pelo ano mil, era procriação e pronto. Agora só resta saber, quem entrou na jogada para incluir, entre o sexo e a fecundação, essa história de trocar umas idéias, discutir afinidades e sair para jantar. Seja quem for, era um gênio. Bom, tudo isso é mais uma teoria.
@ Existe também a possibilidade de o amor estar no DNA, mas que só foi ativado no dado momento da história em que, por exemplo, a literatura tornou-se mais difundida no Planeta. Não dava para escrever um livro só com trepadas e guerras. Era preciso, como direi, romancear aquilo tudo. O amor veio então a calhar porque já estava incubado nos terminais nervosos da gente e bastava aparecer um cara como Shakespeare para apertar o botão.
@ Como sempre existe a possibilidade de eu estar errada, nos dois casos, sigo em frente com outra especulação, a mais provável: sou uma pobre coitada que não conheceu o verdadeiro amor e estou condenada a uma vida solitária, sem perspectivas de encontrar no outro as respostas para minhas exasperações, dilemas e dúvidas.
@Ou pior: não tenho isso no DNA, o que seria mais grave, um defeito genético, uma mutação que pode mesmo servir para se chegar a uma conclusão terrível, ou seja, tecnicamente não pertenço à raça humana. Ai é viagem demais.
@ Mas você nunca sentiu aquele friozinho na barriga? Digo: já. É fraco diante da propaganda que fazem. Tome duas doses de vodka de gut-gut e você sentirá coisa muito melhor. O amor pode ser apenas uma questão de reação física edulcorada pelo comercio varejista, com o objetivo de vender produtos como perfumes, anéis, vestidos de noiva e CDs. E pode ser tudo que falei junto, mais forte, só que ainda não experimentei como experimentei o orgasmo, este sim, um barato bastante satisfatório. Ocorre que neste caso, não é preciso outra pessoa. Pode até ajudar, mas tem vezes que atrapalha.
@ Os apaixonados carregam outro problema. Tanto aqueles que estão transbordando de alegria quanto os que levaram um pé na bunda. Eles querem contar isso pra alguém. Quando descubro que a conversa se encaminha nesse sentido, costumo cair fora. Nem sempre é possível e nos dois casos me sinto sufocada. Com a alegria dos felizes ou com as lágrimas dos abandonados e traídos. Não sei o que é pior. O jeito é ouvir calada e, ao final, se chegarmos lá, dizer que a vida é assim mesmo. Existe até um poema do Drumonnd que fala disso: “hoje ama, amanhã não ama” e por ai vai.
@ Não que eu esteja tratando o amor romântico como cientista social ou psicóloga. Longe de mim tal pretensão. O problema é que ele não se sustenta sozinho. Tire o sexo, ele some. Sem sexo, vira amizade, e ai passa a fazer parte de outra história. Quero dizer que frases bonitas, flores e fragmentos do discurso amoroso – mesmo aqueles Barthes - só sustentam com uma boa ereção ou algo parecido.
@ Repito: posso estar errada. Em tudo. Por isso, essa história de hoje termina com uma pergunta: o que vocês acham?
domingo, 26 de setembro de 2010
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3 comentários:
J'aime beaucoup votre style, très belle écriture, merci à vous. Desculpe-me por não escrever em português ;-)
" JE T’AIME est sans nuances. Il supprime les explications, les aménagements, les degrés, les scrupules". Roland Barthes, in Fragments d'un discours amoureux.
Tatiana. Acho que ela deixou de falar sobre outra coisa que está no livro de Barthes: a espera.
Mas, obrigado
bjs
Amigo Lula, belo texto, nesse sentido, acho que as vezes, também não me sinto humano,
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