terça-feira, 14 de setembro de 2010

Meu nome é Maria Alice

@ Meu nome é legal. Maria Alice. Meus pais devem ter achado o máximo porque para eles parecia nome de gente da alta sociedade. Mais tarde descobriram que Maria Alice tinha alguma coisa de Nelson Rodrigues. Maria Alice é Nelson Rodrigues puro e se Nelson nunca usou esse nome em alguma de suas histórias foi por excesso de pudor. Maria Alice trai, mente, esconde-se, seduz e faz um monte de outras coisinhas típicas de mau caráter. Naturalmente não sou nem o terço da Maria Alice que tenho na cabeça. Muitas vezes faço tudo ao contrário: espero, cumpro as leis dentro do possível e tento devolver tudo que deram pra mim. De fogão a gás a abraço. Resumindo: o nome Maria Alice não quer dizer porra nenhuma.

@ O problema agora, neste momento em que estou escrevendo, é que tenho sacadas que considero brilhantes e, aos poucos, vou achando alguns buracos, alguns que inviabilizam a frase como idéia e graça. Quando vejo que ninguém retuitou, entro em depressão.

@ Nas frases e na vida, sempre creio ser sutil (esse é o desejo de toda moça da minha espécie) e acho que o caminho é esse. O estilo, no entanto, não se refere a um estado meu, natural, inerente. É tudo pose. O mais chato é chegar à conclusão que quase todas são assim. Mas aquilo que parece falsidade é só um jogo de corpo usado no momento certo. Fora disso, minha filha, você é um desmantelo. Quando se está sozinha, a sutileza vai pro espaço.

@ Para evitar que a conversa entre em lugares em que eu possa me afogar, vou deixando o resto pra amanhã (13/09). (14/09) Hoje: melhor não ler o que está escrito lá em cima e partir daqui. É uma experiência. Esperei completar essa merda lúcida, mas no dia seguinte estou bêbada de novo. Então vamos pelo menos tratar das diferenças entre a bêbada de ontem e a bêbada de hoje. Ontem, se não me engano, eu fazia um modelito cafajeste. Hoje sou uma indiferente – uma indiferença de dar pena.

@ Não me iludo com nada, mas ao mesmo tempo irradio um alto astral, uma coisa que as pessoas confundem com felicidade. Neste ponto é igual à ontem. Pose. Não planejada, mas pose. Mesmo escrevendo as maiores barbaridades sobre minha vida procuro não perder a pose. Se você ler, por exemplo, uma frase em francês, daqueles que enfeitam o texto, pode estar certo: peguei no Google. Por isso muita gente pensa que sei falar francês e inglês e eu não desminto.

@ O que aconteceu de fato é que fui demitida (a resposta correta é “começo dois”). Estou, portanto, de férias. Qualquer pessoa no meu estado estaria procurando emprego. Eu, não. Nunca cheguei a completar tempo suficiente num trabalho para ter direito a férias. Assim, decretei esse recesso, vou aproveitar e depois, quando acabar a grana, improviso. O primeiro passo, nesses casos, é programar seu dia: café da manhã numa padaria chique, lendo revista importada, catando milho na leitura em inglês, e de olho no rapaz que está sentado na frente. Chegou alguém. Ela é linda. Sem problemas, caio fora para o estágio seguinte: um bar. Começo com chope pra disfarçar, porque ainda são 11 horas e tem gente que acha feio beber de manhã, mesmo que às 11 horas. Como chope pra mim não é bebida, tome chope. Uma da tarde, a primeira vodka. Daí em diante as coisas deixam de ter sentido. Nem eu quero que tenham.

@ O bar vai fechar e eu já estou entrosada com um grupo de pessoas que trabalham em ONGs. Parecem bacanas, só um pouco discursivas, mas não se pode querer tudo. Partimos em busca de lugares abertos ou que estão abrindo e de repente me vejo num puteiro de verdade. O pessoal da ONG fazendo isso, que loucura, mas é fim de noite, estamos doidos. Só que os ongueiros são velhos freqüentadores do estabelecimento. Esqueci de dizer que todos eram homens. Isso não vem muito ao caso porque é mais espantoso pensar que alguém de uma ONG fosse sócio atleta de lugar daqueles. Mas como tem ONG pra tudo, tirei por menos. Tanto tirei por menos que só sai de lá dois dias depois. Afinal, estou de férias.

@ Nesse tempo de desintoxicação daquela empresa, nada de ficar em casa tuitando. Rua. Chega de tédio e indiferença. No dia em que voltei pra casa só dormi duas horas e já estava de olho numa festinha daquelas de pessoas de 30 anos ou menos que gostam de ouvir os Novos Baianos. Depois dos Novos Baianos vem Clara Nunes. Nunca passou pela minha cabeça que aquela turma ouvisse Clara Nunes, principalmente porque na sequência colocaram umas bandas estranhas, acho que da Croácia, e passaram a conversar sobre história em quadrinhos. Tai um assunto que eu não domino. Preferia escalar time (sei alguns) do que segurar aquela conversa infinita sobre X-Men. Dei bola prum cara durante umas duas horas e ele não desligava da rodinha onde se realizava, solenemente, um seminário internacional sobre a obra de Frank Miller. Sim, internacional. Em casa que toca Novos Baianos, hoje em dia, sempre tem um equatoriano por perto. Especialista em Cumbia – e em Frank Miller.

@ Arrastada a uma ferinha de verduras biológicas, com sol a pino, começo a pensar seriamente em abandonar aquela galera e procurar outra. Não foi tão esquisito como foi com o pessoal das ONGs, Mas, aqui pra nós: como é que alguém passa a noite inteira conversando sobre história em quadrinhos e no dia seguinte, virado, está numa feira de produtos naturais? Não combina. Se essa é a idéia que eles têm de saúde, o Brasil vai terminar com metade da população daqui a uns anos. Sai dali.

@ Chega de galeras, chega de gente. Bêbada, com sono, descobri nessa hora a importância do FGTS. Cartão e dinheiro no bolso, peguei um táxi. Estar naquele táxi talvez tenha sido o melhor de tudo nesse After Hours de segunda em que me meti. Pedi para o motorista ligar o GPS, dei o endereço e capotei. A vantagem do GPS é que muitos taxistas já não perguntam tanto qual o caminho de sua preferência. Eu só queria minha casa e o aparelhinho tratou de me levar até lá enquanto eu dormia.

@ Abrir a porta do apartamento foi como abrir a grade da cadeia. Eu estava presa do lado de fora e a liberdade é aqui, trancada, sem ninguém por perto e duas garrafas de vodka pra mais tarde porque agora eu vou vomitar e dormir.

@_lulafalcao

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