@ Esqueçam o que escrevi. Tudo não passou de mero exercício literário. Ficção. Tentativa de ficção. #Fail. Não sou assim, ou melhor, não sou tão assim ou não consegui me descrever direito. Agora, quase no final, vou tentar pôr as coisas no devido lugar, matar o suspense, estragar a festa. O que se passou aqui, metade é mentira, metade eu inventei. Sim, existe diferença. A mentira saia com mais jeito, enquanto a invenção parecia mentira. Não convencia. Portando sou outra pessoa. Quem? Boa pergunta.
@ Posso continuar sendo ela, Maria Alice, mas teria a última chance de embarcar em outra história, caso tivesse algum talento. Nisso me pareço com ela. Nisso e em outras coisas. Talvez eu seja mesmo Maria Alice de alguma forma ou fui me tornando ela com o tempo. Mudar de idéia é a cara dela. A minha também. Alice que cresce e diminui, como a do livro. Entrei no buraco do coelho e não quero mais sair.
@ Vão dizer: é bipolar. Não. Tem muito mais entes envolvidos na minha vida, dentro da minha cabeça. Bipolar é pouco. Manejo uma variedade de tipos e eles vão se misturando para se tornar uma coisa só no final das contas. O mais grave é que acho que o mundo inteiro é assim, as pessoas são um agrupamento de personalidades que se encontram de vez em quando, quase sempre ou todo dia. Jamais, por exemplo, eu poderia pertencer a um partido político. Já dormi completamente de direita e acordei à esquerda do PSTU.
@ Preocupada com o aluguel atrasado? Estou. Mas o que atormenta mesmo, muitas vezes mais, é o vocabulário escasso, a vontade de abarcar o mundo com uma frase. A vantagem é que, diante das pessoas, costumo ficar calada. Não é falta do que dizer – é como dizer. Por sorte, mulher calada, hoje em dia, é um produto raro e de grande aceitação no mercado. Passo certo mistério, mas na maioria das vezes é dificuldade de entender ou o tédio de participar. Conversas longas, sobre um mesmo tema, me chateiam. Prefiro papos blocadinhos, em pílulas, 140 caracteres. Por isso vou mudar de assunto.
@ Comecei a ler O Novum Organum, de Bacon, para ver se fico mais profunda e filosófica. A tentação intelectual está me matando. Mais do que álcool. Nos dois casos, bebo em boas fontes, mas o álcool desce melhor, redondo, enquanto os livros às vezes batem na trave. Já leu Wittgenstein? Tentei. No dia seguinte amanheci com gosto de cabo de guarda-chuva tautológico na boca. Não entendimento também dá ressaca.
@ Acontece que comecei a pensar na posteridade. Logo eu, a sem planejamento, sem futuro, sem ter onde cair morta. Preciso deixar alguma coisa escrita que não seja carta de suicida. Uma coisinha mais charmosa, capaz de comover um ou dois críticos literários da grande imprensa. Não me importa que se lambuzem na minha vida desregrada. Quero aparecer, ficar famosa, nem que seja post-mortem.
@ Perai. Depois de morta, não. O negócio é agora. Vou baixar a bola. Quero um pouco de fama logo. Ter uma coluna na Folha, encher a cara em outro patamar, formar um entourage de admiradores e um repertório de citações que atraiam lindos e lindas. Quero pegar pelo intelecto. O corpo anda meio derrubado.
sábado, 18 de setembro de 2010
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5 comentários:
"Esqueça o que escrevi". Já ouvi um ex-presidente escrever isso ...
"Quero um pouco de fama logo". Apenas cuidado para depois da fama, não fazer que nem alguns jogadores de futebol fazem, hein!!!
Alameda, é isso ai. A busca pela fama tornou-se uma obsessão de muita gente. Com ela, chegam também seus riscos. A tuiteira saberia lidar com eles?
abrs
Olha, depois de Novum Organum, acho que ela vai pirar de vez. Certas substâncias deveriam ser terminantemente proibidas.
E ainda tem Wittgenstein. É overdose.
abrs
Pobre Maria Alice...eu tb sou múltipla, não bipolar.
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