terça-feira, 21 de setembro de 2010

O melhor já passou

@ De vez em quando, aliás, sempre, fico pensando qual é a pior coisa do mundo. Já fiz uma listinha dessas aqui e, portanto, a pior coisa do mundo poderia ser ficar repetindo isso. Mas agora é um caso concreto ou pelo menos imagino que seja. No meu entender, a pior coisa do mundo é que tudo passa. Por exemplo: seus pais fizeram super 8 e você está aqui, diante do twitter, crente que está arrasando. O problema é que o super 8 passou e o twitter vai passar. Vai passar seu amor por alguém ou amor de alguém por você. Hoje é uma coisa, amanhã é outra. Enfim, esse pensamento me angustia mais do que a morte e a TPM.

@ Vejam se não é absurdo: meu tio era poeta marginal, passou. Meu irmão gostava de Atari, passou. Meu melhor amigo era marxista, passou também. Do mesmo jeito que meu vizinho deixou de fumar maconha. Enjoou. Outra droga é deixar de gostar de certas coisas mesmo enquanto elas ainda estão no auge. Aconteceu comigo e He Man. Comigo e Ivanildo. Nesse último caso, eu sabia que não ia dar certo mesmo. Nunca me imaginei com uma pessoa chamada Ivanildo. Mesmo assim, não sentir a menor falta de He Man ou de Ivanildo me deixa intrigada.

@ A vantagem – ou desvantagem, sei lá - é que a maioria só acha ruim pensar que tudo passa no presente momento. Quando passa mesmo, a pessoa termina nem se importando muito com o que tinha lá atrás e embarcando noutra sem a menor cerimônia. Também há pessoas que se importam demais - e ai a merda é completa. Não ter saudade do que se gostava muito é esquisito. Ter muita saudade é mais esquisito ainda.

@ O gosto é comandado pela moda, pela tecnologia e pelo cérebro. Nessa linha de raciocínio, penso que a bebida é a única coisa do mundo que vou gostar para sempre, especialmente de vodka. Porque o álcool é uma questão do fígado. Só quando o médico disser não dá mais, o fígado já era, ai sim, eu paro. Pode ser mais uma teoria errada. Sou mestre nisso. Mas só porque uma teoria está errada não significa que ela não tenha lá a sua graça. Cheguei até a essa idade à base de idéias que os outros consideram meio absurdas. Mesmo assim, estou viva. Quer dizer, eu acho.

@ Só sei que apesar de tudo continuo acreditando que o que passou, passou, porque não existe pior chato do que o nostálgico. Para este, o passado nunca passa, sempre está voltando, cada dia mais estragado, em forma de lembranças, diluído pelos passar dos anos. Lembranças vão ficando piores a cada dia e só interessam ao dono delas. Exceto, claro, se o sujeito for historiador. Estou me referindo àquele que fica o dia inteiro dizendo que bom mesmo era no seu tempo. Não era. Podia ser para ele, porque estava na juventude, mas nunca tive vontade de viver nos anos 70, sem twitter, facebook e vídeo de sacanagem.

@ O caso é que todo nostálgico é velho e bêbado e quanto mais velho e bêbado mais nostálgico. Pode ser natural, mas é estranho. O cara fica falando de 1950 como se fosse ontem e de ontem como um dia que ele nunca viveu. Aliás, esqueceu como foi.

@ Será que daqui a três décadas, estarei num canto de bar remoendo saudades dos anos 90? É bem provável.

@_lulafalcao

Nenhum comentário:

Postar um comentário