quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tormentas do ser

@ Aprisionada pela culpa e condenada à solidão, sou uma personagem atormentada em busca de saídas. Ouvi isso ontem num canal de TV. Não deixa de ser verdade, no meu caso, mas não gosto de dramatizar as coisas. Convivo muito bem com a solidão. Já a culpa é difusa demais para se transformar em preocupação cotidiana. A depressão é outra coisa, mas isso se resolve com medicina ou álcool. Comigo tem sido mais álcool do que medicina, pois perdi o plano de saúde por falta de pagamento.

@ A solução, pois, é transformar tudo em divertimento. Por isso não choro nunca. Rio. Às gargalhadas, com certa dose de histeria, mas pelo menos evito me humilhar diante de mim mesma. O riso é superior, mesmo sendo patológico. Bom, é mais um chute. Não entendo nada de psicanálise nem pretendo transformar isso aqui num muro de lamentações.

@ O que quero dizer, afinal, é que o importante de hoje pode não importar amanhã. Diante dessa realidade, qualquer tipo de programação é furada. Foi o que me tirou da empresa: não dou o menor valor a estratégias para o futuro porque quando o tal futuro chega a situação já pode ser outra, independente do que se pensou lá atrás. Então faço tudo de improviso. Sem planejamento, pelo amor de Deus, porque em vez de planejar você poderia estar realizando uma coisa que quer agora e que só presta se for feita agora. Os americanos, por exemplo, se planejam demais e por isso muitos deles são infelizes. “Temos um jantar na casa dos Watson daqui a seis meses”, não é assim que dizem nos filmes? Porra, daqui a seis meses os Watson podem estar mortos.

@ Preciso esclarecer que não sei se estou certa. Sei que sou assim e pronto. Vejo lógica nisso. Defendo meu ponto de vista. Mas a empresa, claro, achou o contrário. O chefe simplesmente tratou meus argumentos como sinal de loucura, embora no fundo tenha pensado a mesma coisa e ao invés de me abraçar, aos prantos, e dizer que eu tinha razão, resolveu seguir as normas corporativas. Senti isso nele. Coloquei em xeque sua fé religiosa em divindades como market share, mas ele não cedeu. Vai contar o caso pros amigos como piada sem saber que aquilo deu um nó em sua vida de merda.

@ Exagero. Ele disse que assim não dava, não discuti mais e fui tomar umas na esquina. O mais legal nisso tudo é que as colegas esperavam que eu saísse da sala chorando. Sai flutuando. No bar, a Kovak tinha gosto de Absolut.

@ Em suma: voltei àquela vidinha de sempre. Continuo em férias de fato há mais de um mês. Só que não torro o FGTS em baladas. Gasto só comigo. O problema é que mesmo assim as despesas aumentaram, muito, porque resolvi me endividar comprando uma TV que cobre toda parede do meu quarto. Sai do bar direto para o cinema. De lá, só trouxe a vodka. O negócio, agora, é ficar em casa. O mundo lá fora é perigoso, eu sou perigosa e o melhor que tenho a fazer é evitar esse confronto.

@_lulafalcao

2 comentários:

Galego disse...

Eu li tudo e ri pra caralho!
Não, não... desculpe-me. Vai que não é pra rir, e eu tô comentendo uma gafe?
Bom... despois que tu mandou o chefe tomar no cu, que gafe poderia eu cometer, né?
Pois bem... nao desanime caso nao tenham retuitadas... a turma ta lendo e rindo. Vai por mim. Bota uma dupla e cheers (pesquina no google o que é cheers).

Lula Falcão disse...

Valeu, Adauto. Nem eu sei para que ela serve. Talvez pra nada. Mas isso não vem ao caso. E obrigado pela dica. Vou descobrir que é "cheers".
abrs

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