@ Vida é um negócio que um dia vai dar errado. Queira ou não, tem um monte de coisas conspirando contra você. E olha que nem estou falando de morte. Ainda. Então, pense: desemprego, doença, invalidez, falência, pé na bunda, traição, dívida, ressaca... A lista de adversidades é enorme. Por isso não faço planos. O cara se planeja o tempo todo, mas não conta com o acaso, a merda que vem na frente, e depois reclama. Eu não reclamo. Já sei que e tudo isso é um inferno. O que vier é lucro.
@ Mesmo assim, tenho que ter o mínimo de cuidado. Senão com o futuro, pelo menos com amanhã. É sempre onde pretendo chegar, todo dia, nada além disso. Quero o mínimo e o mínimo é dinheiro. Por falta de grana, vivo em constante estado de alerta. Ontem mesmo vendi livros velhos num sebo para comprar vodka.
@ Pagar o aluguel, então, é uma epopéia. Na maioria das vezes recorria àqueles empréstimos que não exigem comprovação de renda. São uns assaltantes. Agora, só agiota, é o jeito. Meu nome está no Serasa, no SPC e em uma porrada de outras lugares do governo e da iniciativa privada. O CPF já era. Nem lembro o número. O problema do agiota é que você tem que pagar. Eu pago. Os juros. Pensei em decretar a moratória, mas abaixo do agiota não tem mais nada.
@ Essas coisas preocupam. Eu poderia escrever com mais tranqüilidade se o dinheiro das tuitagens desse para cobrir o estrago. Poderia ser uma Clarice Lispector, cheia de vida interior, toda etérea, sutil e frágil. Mas não. Tenho que lidar com um bando de cobradores, síndicos, pequenos traficantes, aloprados de toda espécie, e não consigo virar nem um Rubem Fonseca – o que já estava de bom tamanho.
@ Eu disse que sou de reclamar, não vou reclamar. Pior do que isso seria ter uma caderneta, com tudo anotado, trabalhar de dia e ver TV à noite. Dormir, acordar. Não sei como tem gente que consegue viver assim, sem aditivos, apenas fazendo contas para a receita bater com a despesa. Isso não é vida; é um escritório de contabilidade.
@ Ai eu gasto o que não tenho e às vezes me pego em situações altamente constrangedoras, como catar bagas no chão em show de rock, tomar 51 com o porteiro e ir pro motel com um cara que nem conheço direito só por causa da TV a cabo.
@ Ah, sim. Aquela história de viagem ao futuro, minha vida em 2040 e outras merdas já passou. Aliás, o efeito passou. Nunca mais tomo aquilo.
domingo, 5 de setembro de 2010
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2 comentários:
Garoto, estou em busca dessa coragem que o texto deixa implicita, ou melhor explicita muito bem e ainda nos dá um pé no estomago.
Estou vivendo como um escritório de contabilidade.
Gostei do texto,me convida a pelo menos diminuir a quantidade de clientes do escritório e tranformar parte da sala em um bar bem animado.
Você devia também fazer um blog. bjs
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