@ Descobri minha homossexualidade aos 16 anos e aos 17 a heterossexualidade. Fiquei com as duas. Era mais prático e, melhor de tudo, mais amplo. Não ficava por ai reclamando da falta de homens.
@ No início foi divertido, usei meus super poderes até o talo, mas o tempo se encarregou de estragar tudo. Bastou uma leve embarangada e os meninos e meninas sumiram.
@ Por sorte, não sou carente ou nem tanto. Assim, transformei minha vida sexual numa questão de fórum íntimo, ou seja, faço sexo comigo mesma. Como, aliás, vocês já sabem. Então, ficar na mão deixou de ter aquele sentido figurado ruim, sinônimo de abandono e solidão. Quase sempre fico na mão e é satisfatório. No meu caso, é o único processo de auto-ajuda que funciona. Também é menos tenso. Se quiser mais, tem mais; se não quiser, não preciso inventar uma dor de cabeça. O melhor: não há risco de procriação.
@ A carreira solo, portanto, vai bem. Tenho obtido excelentes resultados com as bolinhas explosivas da Loja do Prazer e o sex toy and the city, um dos 6.500 itens da Desejo Oculto. Nada disso deixa sequelas. Durmo comigo e acordo comigo. Posso beber à vontade sem perigo de encontrar um estranho na minha cama ou, mais grave, terminar na cama de um estranho, como acontecia com frequência. Não eram estranhos porque eram desconhecidos – isso é o de menos. Eram estranhos porque não tinham nada a ver com nada.
@ Mas sexo não é tudo. Mesmo para um animal eternamente no cio como eu. Tenho contas a pagar e cada mês acaba sendo um desafio. Nesse ponto, procuro ver a coisa como um jogo. Só que tenho que ganhar sempre porque a derrota é punida com despejo e conseqüente corte da banda larga. Como já tentei quase tudo no mercado de trabalho, formal e informal, sobrou-me a pouco nobre tarefa de cabo eleitoral. Não sabia que todo o meu saber político desaguaria nisso. Cabo eleitoral. Convenço as pessoas a votar num deputado (estadual) que detesto, especialmente porque é um homem de aparência suja até quando aparece no horário eleitoral da TV. Sua muita, engole os plurais, mente.
@ Minhas novas funções envolvem ainda a agenda do candidato, a logística e, num grau menor de importância, o programa de atuação parlamentar. Eu que escrevi. Botei na cabeça um político europeu vagamente socialista, terno bem cortado, e passei a tracejar uma monografia cheia de citações de Bobbio, Nabuco, tudo isso praquele merda. O deputado, coitado, empacou no primeiro grau, não iria entender nada. Mas gostou. Tanto gostou que leu aquilo como discurso, foi muito aplaudido, embora nem ele nem a platéia tenham a mínima ideia do que a junção dessas palavras representa. Sai de lá, nesse dia, até um pouco satisfeita com meu texto. “Pelo menos tenho ritmo”, pensei.
@ Iria acabar essa lengalenga de meses com algo mais bombástico: casei, enriqueci, morri, por exemplo. Sugeriram até suicídio. Nada disso. A vida continua o mesmo mar de lágrimas no qual aprendi a surfar. Não mudei quase nada e tudo em volta continua igual. Ainda bem.
@_lulafalcao
terça-feira, 19 de outubro de 2010
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