- Em 1994, o Exército tomou o Rio de Janeiro e nos deslocamos de São Paulo para lá. Quase um mês na cidade, num roteiro cotidiano do hotel em Copacabana para o Complexo do Alemão. Na época, a população achou que seria o fim do tráfico. Não foi. Em poucos dias de ocupação, presenciamos a continuação do comércio de drogas quase na frente dos militares. Um dos soldados do tráfico, numa entrevista, afirmou que a vida tinha que continuar. “Quem vai sustentar minha família?”, perguntou.
- Numa dessas incursões no complexo terminamos ficando até mais tarde e, surpresa, o Exército e os fuzileiros navais tinham ido embora. Fim do expediente. Era noite. Não havia como voltar por falta de carro. Paramos num bar para tomar cerveja. O fotógrafo Vidal Cavalcanti, colega do Estadão, puxou conversa com um mal encarado, conhecido traficante. Ele olhou para Vidal e reclamou: “vocês de São Paulo estão querendo destruir a imagem do Rio”. Vidal encarou: “E vocês?”.
- Já era noite quando Vidal resolveu dar uma passada no Morro Chapéu Mangueira para ver e fotografar – se possível - a movimentação do tráfico. Havia uma fila, grande, e um cara organizando o negócio: “branco desse lado (cocaína) e preto nesse outro”.
- Conseguimos uma vez autorização para entrar no bunker de um dos líderes do tráfico. O repórter Marco Uchoa tinha chegado primeiro. Havia um churrasco. Pedaços enormes de carne. Carreiras enormes de cocaína. Eles cheiravam, mas não perdiam o apetite.
- De uma forma geral, os moradores do Alemão e Nova Brasília aplaudiam os militares, as meninas paqueravam os soldados, mas não havia reclamação pública contra o pessoal do tráfico. Bronca mesmo, só da imprensa.
@_lulafalcão
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
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