No ônibus, ela cutuca a vizinha de cadeira, e pergunta: “eu estou aqui, agora?” Claro que a outra desdenha: “você é louca”. Talvez. O problema não era de hoje. Há dois anos ela vinha experimentando a sensação de não estar em determinado lugar, embora estivesse. Pela primeira vez, no entanto, o mal estar persistia por mais de segundos, quase um minuto, e depois no trabalho, atrás da mesa, olhando perplexa para pessoas que sabia que eram colegas, mas a certeza formal não dizia muita coisa. Tudo estava inadequado e esquisito.
À noite, diante do computador, começou a pesquisar a condição de não estar, estando. Não achou muita coisa no Google, mesmo porque não sabia exatamente o que perguntar ao oráculo. A pesquisa, mesmo assim, resultou em algumas possibilidades: síndrome do pânico, esquizofrenia, encosto e morte. Talvez ela estivesse morta e essa ausência de si própria seria o que sentem os mortos, vagando por ai, com a ilusão de que um bom dia no elevador ou uma ordem no trabalho é real. Deixou pra lá.
Mais tarde, ao entrar no Facebook e no twitter todos aqueles problemas sumiram de repente. Sentia-se inteiramente familiarizada com seus pares. Trocou idéias, fez comentários, curtiu, cutucou, mandou DMs, postou fotos de Paris, sentiu-se feliz, enfim, com a descoberta: ela era um avatar. Fake.
@_lulafalcao
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