quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Solidão e seus equipamentos

O mundo dos separados funciona bem até o ponto em que o dinheiro some. Sem emprego e sem mulher, a vida dele afunda quando começa a desaparecer aquele aparato necessário à solidão: Internet e TV a cabo. O ponto alto – no caso, baixo – dessas situações é a noite de domingo. A TV só pega a Globo. Insônia. A emissora anuncia que dará uma parada em sua programação para a manutenção dos transmissores. Último recurso: comprimidos para dormir. A cartela está vazia. Todos os livros foram lidos ou vendidos ao sebo. Por sorte, logo chega a segunda-feira, com suas possibilidades e imprevistos. Os imprevistos terminam dominando tudo.

Enquanto o País cresce, ele diminui. A grana do FGTS está no fim e as contas do mês nem são abertas. A faxineira é outra perda irreparável. O celular da empresa virou pré-pago. O aparelho fixo está mudo por falta de pagamento. A cozinha é uma cidade-fantasma.

Um dia a ex-mulher aparece para cobrar a pensão. Ela vê, num traveling, que o sujeito está a zero. Mas não há acordo. O fracassado terá que acertar suas contas na Justiça, embora ela seja funcionária concursada do Tribunal de Contas do Estado. Lei é lei.

Ai ocorre o inesperado: outra mulher. Bonita, até. Mas desempregadíssima. Os dois vão morar juntos. Em pouco tempo aparecem empregos para ambos, o casal progride, nascem alguns filhos. O mundo estava uma beleza, até que a vida os separa. De novo. A diferença é que agora ele tem TV a cabo, wireless e aposentadoria. Mas logo tudo isso não terá a menor importância.




@_lulafalcão

Um comentário:

TEM ROUPA NA CORDA disse...

ë exatamente o que acontece..kkkk Ótimo..beijoca
Penha Saviatto

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