O que estraga uma história, quando já se sabe como ela termina, é a vontade de chegar logo no fim. O cara quer aquele arremate já pensado antes de sentar para escrever o livro. A pressa leva a uma convergência prematura de acontecimentos, uns atropelando os outros, e muitas vezes o romance termina virando conto.
O contrário traz outro tipo de problema. O sujeito parte de uma frase, mas esta frase precisa sair do canto e não ficar o tempo todo se gabando de si mesma. A sequência da história é um processo penoso porque o escritor começa achar que nada vale a pena depois daquela frase. Então, o conto pode virar um poema ou uma tirada espirituosa.
Notei a primeira angústia ao ler “Um Sussurro nas trevas”, de H.P Lovecraft (1890-1937), editado pela Hedra. Doido para escrever o desfecho, o escritor de histórias fantásticas e influenciador de Stephen King coloca seu personagem nas costas – o cético folclorista amador Albert Wilmarth – e corre com ele em busca dos segredos escondidos nas colinas de Vermont (EUA), onde se escondem seres extraterrestres, segundo revelações feitas em cartas pelo acadêmico recluso Henry Akeley. Dá para sentir, a cada parágrafo, que Lovecraft já enxerga a linha de chegada.
A surpresa do livro, no entanto, nem é o fecho do autor, mas um apêndice escrito Fritz Leiber, que gosta de Lovecraft, mas neste caso esboça uma série de restrições sobre a obra – até mesmo a respeito da verossimilhança dos personagens. O defeito essencial da narrativa, segundo Leiber, é a sua própria estrutura, pois Lovecraft “planejou um grande susto apoteótico para Wilmarth (e para o leitor) e escreveu de maneira obstinada rumo a esse objetivo, propositalmente evitando qualquer tipo de desvio”. O comentarista, também escritor de romances fantásticos - morto em 1992 - observa ainda que a marcha batida rumo à apoteose parece ser o motivo para a escassez de momentos dramáticos no miolo da história.
O caso número dois, aquele que prende o escritor ao início, tem muitos exemplos. Muitas frases geniais seriam um excelente ponto de partida para um romance. Mas os autores se contentaram com a frase ou mesmo não perceberam que, a partir dali, teriam uma bela história pela frente. Para ser mais breve – e também apressado em chegar ao final – pego o exemplo do crítico e dramaturgo George Jean Nathan (1882 — 1958). Como seria interessante que um livro começasse assim: "Bebo para tornar as outras pessoas interessantes." O mesmo poderia ocorrer a frasistas de primeira, como Dorothy Parker, Groucho Marx, Millor Fernandes, entre tantos. Modestamente, pensei numa boa frase outro dia. Dali comecei a escrever uma história. Mas não rendeu sequer um conto. Virou post do twitter.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
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