Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião, vou abrir as portas do paraíso, fazer e acontecer enquanto estiver aqui, neste cargo, mandando e desmandando, comendo todo mundo e comprando com cartão de crédito corporativo. Só não gosto de ser injusto. Vamos dividir a merreca com os mais chegados, os moralistas, os sonsos e a imprensa falada, escrita e televisada. Quero marcar minha passagem como o bondoso, o Messias burocrático, o homem que multiplicou propinas no Vale do Amanhecer. Sou eu, o corrupto do bem, a mola do desenvolvimento, o criador de um novo conceito de desvio de verbas públicas para finalidades filantrópicas e culturais.
Não adianta ser feliz sozinho. Existem amigos em sérias dificuldades financeiras. Para eles, vai uma parte da comissão e do dízimo. Distribuição de renda funciona assim, em intervenção direta, e não com o blá-blá-blá de políticas oficiais, feitas para não resolver questões cruciais, como o pagamento de dívidas e os desvarios da patroa. O negócio é dinheiro vivo na mão do sujeito, sem formalidades. Não dá para todos, eu sei, mas ver aquelas carinhas alegres recebendo sua fatia já dá meu dia por ganho.
A ética, amigos, pode ser o alimento daqueles que estão na universidade, com salário mensal garantido, mas não cuida dos sem profissão definida nem dos esforçados do curso supletivo. Cheguei aqui quase sem nada, apenas com esforço e um enorme talento para a bajulação. Galguei degraus, peguei o meu, comprei um apartamento e uma casa na praia. Só que nunca me esqueci dos amigos, dos companheiros de miséria, hoje todos remediados graças a este espetacular projeto inventado por minha equipe e inspirado na mais pura caridade cristã.
Corrupção, portanto, não é o mal deste País. É sua salvação. Sem ela nada, as coisas não funcionam, os papéis se acumulam, produzindo mais lixo e a conseqüente devastação da natureza. Sem ela ninguém trabalha com alegria, pois só vislumbrará o mísero salário no final do mês. Sem ela não há esforço concentrado para a aprovação de matérias, movimentações nos lobbies de hotéis, incremento do comércio de maletas, patrocínios decentes, baladas, bons restaurantes, mulheres bem vestidas, viagens internacionais, prazer sexual e banhos de jacuzzi.
Nãos e enganem. Todo dinheiro, sujo ou lavado, termina voltando para o PIB, ainda mais encorpado, produzindo riqueza e melhoria do IDH. Acima de tudo satisfação das pessoas queridas.
O futuro está em suas mãos. Use-as.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
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2 comentários:
Excelente. Concordo plenamente com você. Abs.
Os corruptos são sempre homens de família. Veja com eles constroem mansões, fazem casamentos principescos para os filhos, empregam parentes, compram lanchas, automóveis e tudo isso para fazerem a família feliz.
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