Por anos estive ao relento da existência. Os projetos fracassaram, não havia saída. Mas agora, às vésperas do meu cinquentenário, vejo como as coisas mudaram. Estou de pé, sadio e com dinheiro no banco. Os filhos estão criados e se mulheres se foram, ficou esta ao meu lado, prestativa e heróica, testemunha de meus piores momentos, de vícios e males de década e meia.
Minha vida era uma tempestade sem abrigo e ela chegou justamente no instante de maior desespero, quando a enxurrada de danos já travava meus sentidos. Seu nome: Odete, 43 anos. Eu estava a caminho do fim. Só mulheres desse calibre são capazes de repor a dignidade de um homem, salvá-lo do naufrágio. Eu era um fardo pesado – não sou mais, graças a seus préstimos.
Renovado e disposto, livre de todos os dramas, presto-lhe a última homenagem nesta hora de dor e despedida.
Lamento, Odete, que tenhas partido no auge da minha glória. Lamento, Odete, que tenhas morrido para me salvar.
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