Nisso veio mais um para a briga e a confusão foi aumentando, aumentando, porque dois outros entraram com os pés, mais um jogou uma garrafa de café na cabeça do chefe e, de repente, quase todos da repartição estavam envolvidos nesse bafafá, sem saber como começou e como vai terminar. Então, a mulher do cafezinho teve o bom senso de chamar a polícia, enquanto, nas salas vizinhas, encarregados e subordinados já estavam trocando murros e safanões e até apareceu alguém com um revólver e deu um tiro, ainda bem que bateu na parede, mas nos andares de baixo, homens e mulheres pegavam qualquer coisa para bater uns nos outros, usando teclados de computadores, grampeadores, pés de mesa e até o retrato oficial do presidente da República.
A situação só fez piorar quando os policiais chegaram. Eram poucos e terminaram apanhando também, mas um deles teve tempo de pedir reforços pelo celular, no justo momento em que o fogo já ardia no gabinete principal, cujo diretor tinha saído mais cedo e deixado a porta aberta. A secretária dele, uma magrinha, acabou golpeada com um carimbo e saiu de lá correndo, com medo do fogo e dos colegas. Ai chegou o Batalhão de choque, com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, mas o cara do revólver reagiu com balas de verdade e duas pessoas caíram feridas, sangrando muito, sem socorro, segundo o relato de um jornalista que chegou naquele momento para uma entrevista que nada tinha a ver com rebuliço, era sobre previdência, e ele, coitado, também terminou metido no tumulto, junto com os funcionários de todos os escalões, departamento e seções.
Pelos cálculos de PM, que sempre informa quantas pessoas têm nos lugares, ao menos 130 servidores públicos federais participaram desse início da briga, que pode não estar ocorrendo só ali, mas em vários cantos ao mesmo tempo. Nada sobre as razões desses transtornos. Mais jornalistas foram chegando, os curiosos também, e o conflito ganhou a rua e quem estava apenas vendo passou a levar cacetada e a reagir da mesma forma, esticando a baderna a quarteirões adjacentes e levando a desordem para dentro dos ônibus, táxis e estações do metrô.
Daqui a pouco acaba o estoque de sinônimos para confusão porque o pandemônio continuou, cada vez mais ampliado, envolvendo o bairro, e alguns batalhões lutam agora entre si e por motivos inexplicáveis e talvez inexistentes. O certo é que lutam, trocam tiros, gritam e ninguém socorre ninguém. É um Deus nos acuda, e Ele não acode, pelo contrario, a coisa só faz degringolar, pois se irradiou para outros lados da cidade, famílias inteiras contra outras famílias e contra elas mesmas, num impulso exagerado de violência que parece não ter fim, principalmente depois que foram anotadas escaramuças no interior do Estado e correm até boatos sobre a demissão do secretariado do governador após uma discussão feia dentro do palácio por causa desse fuzuê todo. Passaram a trocar golpes de Tae Kwon Do, judô, sumo e Capoeira de Angola. Uma comissão de inquérito criada às pressas para avaliar a situação não teve tempo de avaliar nada e logo os inquiridores estavam participando da arruaça, movidos por ódios mortais, assim parecia, embora, mais uma vez, é bom salientar, não havia motivação para tais sentimentos. Nem razão nem lógica. “Por que bati nele?”, perguntou-se, em voz alta, um dos sujeitos de paletó e logo chegou à conclusão que bateu porque apanhou e assim andou a coisa até se agravar ainda mais.
Nas sedes de partidos, houve reuniões. A ordem era sair nas ruas, com bandeiras, em nome da causa. “Que causa?”, indagaram dois militantes e ninguém soube responder. O desentendimento, então, também adentrou ao seio partidário, e o que seria uma passeata, em defesa do povo (contra quem? Por quê?) acabou em quebradeira, tacles e tesouras voadoras, como nos Reis no Ringue e no Telecatch Montilla.
Gente que não brigava nas ruas, brigava na TV, mas só no bate- boca, embora ameaçando sair na tapa, especulando em mesas redondas sobre os motivos de tanta violência. Os cientistas políticos apostaram em insatisfação popular, os psicólogos em histeria coletiva, os juristas em crime organizado e os biólogos em alguma coisa na água. Não chegaram a qualquer conclusão razoável. Exceto que tudo ocorreu por acaso, sem mais nem menos, a partir do nada. Ocorreu, não. Está ocorrendo e vai piorar.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
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