Sob o efeito de determinada substância, ele escrevia contos tchecovianos. O cânhamo, famoso por provocar esquecimento, aquecia a memória, aumentava a criatividade e aguçava a ironia. Sem o béqui, o mundo era uma página em branco. Não havia literatura, grande ou pequena. Por isso, consultou-se com médicos e críticos, escribas caretas e xamãs. Não teve jeito. O parágrafo só saia à custa de algum delírio induzido. A solução era deixar o pango e, por conseqüência, parar de escrever. Mas ele não seguiu o conselho.
Um vício leva a outro, é o que dizem. O sujeito começa com um baseado e um textinho leve e, quando dá por si, já está atolado até a alma em produtos mais pesados, quem sabe um romance com cocaína. Por isso não saía do conto, gênero mais ligeiro, com necessário arremate, a conselho de Mr. Bloom. Até ai tudo bem. Mas uma história comprida, capaz de ficar de pé na estante, é sempre uma tentação. Essas coisas ocorrem - e ocorreram com ele.
Cada dia mais pilhado, coração saindo da boca, passou a escrever dia e noite, sempre acompanhado de uma carreira atrás da outra, até concluir o romance sobre o escritor drogado, ele mesmo, tagarela solitário e imbecil em quase todos os sentidos, menos num: o livro era bom. A obra póstuma foi um sucesso de crítica.
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