“Ele era uma moça”, como se dizia, sobre
homens dóceis, educados, incapazes de matar um pernilongo. Muito antes das
marombadas, fortonas, com pernas do lateral Roberto Carlos, se pensava assim,
sobre a natural docilidade da mulher exportada para o homem. A questão é mais geral, acho, e se refere à
inevitável convivência entre pessoas fortes e pessoas frágeis, sejam mulheres
ou homens, sensíveis ou não.
Guardamos uma fragilidade em algum lugar do
corpo, no aspecto ou na mente, uma sensação de estar, e de que estará para
sempre, numa posição inferior. Ele era assim, ainda é, não sei, nunca mais vi.
Mas sua fragilidade era também sua grande arma, entrando por algum canal do
cérebro e saindo de lá transformada num estranho sentimento de auto-estima. A
razão de sua existência seria então contrapor-se à força, e dessa forma ganhar
uma melhor razão para viver, razão superior à do próprio forte e poderoso, que
é apenas a de manter-se onde está.
Depois desse toque de auto-ajuda, vamos
todos de mãos dadas às considerações preliminares e ao mesmo tempo finais: em
Física não é diferente. É excesso de força contra falta de força o tempo
inteiro. No universo é assim e é assim na esquina e na política. O forte quase
sempre vence, exceto quando há uma fusão inesperada de fragilidade e audácia
com um bocado de sorte, e o fraco triunfa, mas isso acontece raramente.
É insólito, mas acontece. O frágil rapaz,
quase uma moça, alcança o canto dos poderosos com ajuda dessa tal conexão de
ocorrências e, detalhes de lado, o fraquinho logo se fortifica e torna-se igual
aos Todos Poderosos, ganhando um sentimento novo e arrebatador, mas mesmo assim
de segunda em relação ao que sentia antes. Por lei universal, ninguém quer de
volta sua fraqueza e ele continuará dessa forma, evitando a queda, vivendo a
infelicidade típica dos fortes, até que um dia cairá no mundo dos fracos, de
novo, e se descobrirá pequeno e sutil como era e tudo seguirá nesse moto, mas
acho que só para ele e uns poucos.
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