- Eu me vi ontem à noite no outro lado da
rua. Tenho certeza: usava a mesma roupa, era igual a mim em detalhes, até no
jeito de andar. Eu estava lá e cá, nos
dois lados da rua. Olhamo-nos rapidamente, perplexos, ambos tentamos uma
aproximação, mas desistimos. Eu (ele) desisti; Ele (eu) desistiu. Medo das
conseqüências.
- Você vendo você... Só há um “você”.
- Um duplo, talvez. Andei lendo a respeito
de outras dimensões. Uma imagem de mim mesmo pode ter vazado de lá...
- Há também O Duplo, de Dostoievski. Senhor
Goliadkin pensa que é um outro, um outro diferente dele, mas um outro que só
existe pra ele...
- Loucura, né?
- Não vamos tratar dessa forma. Digamos: um
transtorno. Fale mais sobre ele (você)?
- Não é a
primeira vez. Segui seus passos uma vez. Ele (eu) repetia meus gestos, como o
argentino que segue os passantes, imitando seus gestos. Não era argentino. Éramos
eu (ele) e ele (eu).
- Havia espelhos por perto?
- Não.
- Era uma possibilidade. Pode ter sido um
reflexo qualquer, uma informação errada passada pelo cérebro. Você tomou alguma
coisa antes de vê-lo?
- Água com gás e café.
- Já pensou em abordá-lo?
- Abordar quem?
- Ele, você, tanto faz.
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