Só restou emprego numa agencia de
publicidade, mas ele não sabia mentir. Não que publicitários mintam, pois
muitos acreditam piamente em seus slogans e alguns até no produto. No caso
especial do sessentão destas linhas, um pouco adoentado, a oportunidade era uma
benevolência. Estava desempregado. Bom de frases, poderia contribuir para o
sucesso de algumas contas. Era a impressão geral. Não funcionou.
As frases e textos que construía eram sobre
vida e morte, nem sempre otimistas. Em tese não se aplicavam com muita
propriedade a tubos e conexões, cursos de línguas e material de limpeza. Tentar,
tentou, no entanto não vieram palavras capazes de agarrarem-se ao produto e ao
mesmo tempo possuírem um toque de reflexão filosófica. Para ele, fazer isso
seria mentira. Então, produzia slogans frouxos quando se referia a margarinas
ou pensamentos definitivos e densos, mas sem utilidade para biscoitos e
desodorantes.
Dois mundos em sua cabeça e a necessidade
de sobrevivência. Usava então o expediente de escrever frases pontuais e quase
óbvias, que eram aceitas pelo cliente, embora deixassem seus colegas
decepcionados. Esperavam que fosse um George Jean Nathan da propaganda; era
apenas funcional, como todos. De sua parte, ele se esforçava em ir mais longe,
apenas para consumo interno. Só entregaria algo realmente bom – e verdadeiro -,
caso estivesse com o slogan perfeito, o slogan que elevasse a publicidade ao
patamar da Filosofia Pura e da Física Quântica. Mas bastava pensar na frase de
Natan - "bebo para tornar os outros interessantes" –, aplicada a uma
marca de cerveja, para se precaver da possibilidade do ridículo.
Descobriu ao final que a publicidade tem
seu moto próprio e talvez surgisse alguém para unir literatura da melhor
qualidade e pegada vendedora num comercial de micro-ondas. Não era ele.
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