A - Vou colocar esta frase porque me toca, só isso. Não me preocupo em agradar, parecer inteligente, requintada. A frase
nem é minha. Tirei de Clarice Lispector, no Facebook, pois nem tenho livros
dela. Nunca li. Mas agora os textos de Clarice estão bastante em uso e apenas
sigo a onda. Escrevo a mesma coisa. Ninguém curte. Eu não ligo.
B – Não sou assim. Gosto de certa
solenidade. Posso até postar um inocente prelúdio, mas o público-alvo vai
pensar: “ele deve ter sentimentos sofisticados”, e fica explorando qual
ocorrido teria provocado tamanha inquietação em minh’alma. Ainda estou em
dúvida se é assim ou é mania de grandeza. Tem tudo para ser mania de grandeza.
C- Ter um bom conceito de si próprio não é
o problema. No seu caso, porém, há exageros. Ninguém está particularmente
interessado em sua vida. As pessoas são parecidas, muitas iguais a você,
desesperadas por alguma exibição. Não fujo à regra.
A – É só a velha auto-estima masculina,
oscilando, sempre, de oito a oitenta. Estamos aqui para diagnósticos, não é
isso? Pois bem, segue o meu: não quero alteração no cotidiano. Entro em pânico
diante de qualquer controvérsia, polêmica ou crítica. Daí a postagem de textos
neutros, etéreos e já testado por outros. É como o medo de pecar. Não consigo
deixar de ser católica.
B – Pois é. A rede também parece uma
igreja. Uns vêm aqui para contar pecados, ilustrados com fotos; outros despejam
suas ilusões, medos e angústias. Meu caso. Todo dia presto contas das minhas
ações. Sou praticante. Não do catolicismo, claro.
A – Também acho. Mas não escreveria isso.
Pode aparecer um especialista em Social Media para refutar meus argumentos e eu
não tenho argumentos. É só uma impressão.
C – Pode se uma igreja, um clube, um vício,
o retiro de uma civilização aposentada; pode ser tudo. Mas essencialmente é uma
exposição de vaidades. Não desgosto. Até vejo sinceridade em posts que anunciam
um belo jantar em casa ou a compra de um novo I-pad. Assim vivíamos na
sociedade real; assim vivemos aqui, propagando vantagens e mentindo um pouco.
D – Só escrevo se tiver uma grande sacada.
Passo o dia atrás de frases de efeito. Só penso nisso. Sou tão dependente
quanto vocês. Já lancei uma pequena coletânea. Pena não ser pago por meu
conteúdo. A vantagem é não ter patrões. A desvantagem é não ter dinheiro.
A- Na verdade, meu maior medo é parecer
louca. Tanta doidice escrita por aí. Olho pra uma pessoa e digo: “essa precisa
ser internada”. É cada opinião absurda. Estar aqui, por exemplo, me deixa
aterrorizada, pensando se não é uma insanidade. Só topei participar porque
disseram que não iria ser publicado.
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