RH
Eu promovia brincadeiras motivacionais para
jovens executivos e gerentes. Todos se empenhavam, em nome de seus chefes, e se
submetiam ao ridículo sem reclamações. Alguns manés gostavam de fato daquela
pantomima de RH e participavam com entusiasmo. Por trás dos panos, eu sugeria a
demissão dos mais destacados no teatrinho corporativo. Coitados, voltavam para
casa sem entender nada. Nunca entenderam. Deram o sangue para serem
competitivos e ousados. Ganharam o olho da rua. Coisa chata, sem dúvida, mas
dava certo prazer em ver um otário sem emprego. Era a embromação dando certo
por motivos contrários aos seus objetivos. Gostou dessa merda, rua.
Business as usual
Gasto tempo e dinheiro com a construção da
minha imagem. Tenho assessores de imprensa e de marketing. Uso ternos caros –
este, por exemplo, custou uma fortuna – e o cabelo ostensivamente penteado. Gel
importado para um visual de quem acabou de sair do banho. Sou sempre assim.
Acordo cheio de iniciativas. Como cereais, leio os jornais, faço esteira; tudo
isso enquanto minha mulher ainda dorme, alheia ao mundo corporativo. Desço, o motorista
me espera. Ligo para ela e só ouço um resmungo preguiçoso: “o que é desta
vez?”, pergunta a mal-humorada. Na
verdade, apenas cumpro os protocolos do casamento. Não penso muito sobre isso.
Meu negócio são os negócios.
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