sexta-feira, 26 de abril de 2013

OVO




Quando era criança ouvia o pai repreender a mãe por procurar cabelo em ovo. Ele ficava torcendo para ela achar, pois nesse tempo ainda não era versado em expressões idiomáticas e não via nada demais em um ovo ter cabelo. Afinal, a pequena estrutura já era esplêndida por natureza, inteiramente fechada e branca, num arredondamento perfeito, sem sinais de entrada, mesmo secreta, impossível, por exemplo, de ser aberta como se abre hoje um kinder ovo. O cabelo seria mero ornamento externo, igual às perucas coloridas do carnaval. Não havia uma marca, uma divisão, uma área desatarraxável, uma saída ao estilo do cubo mágico, geometricamente favorecido por seu formato quadrado. Para se chegar à clara e à gema, apenas uma solução deselegante: quebrar a casca, de preferência contra a borda da frigideira. Depois, o conteúdo do ovo era frito e comido, sem a menor reflexão sobre a falta de suavidade e estilo. 

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