Doeu-me o final da apresentação, quando
ela, em lágrimas, confessou o desejo de nos abandonar para sempre. Era teatro,
claro, iria mesmo embora de qualquer jeito, sem alarde, mas resolveu montar seu
quadro diante do público. Conosco – seus dois amantes – mantinha apenas uma
relação protocolar, nos últimos meses; em casa criava conflito só para afastar
o tédio. Agora estava lá, no palco, contando à plateia nossa convivência na
mesma casa, os três, dois caras e uma cantora, e anunciando também o
encerramento do caso. Queria ser a
primeira a deixar dois homens no mesmo momento e mesma cena, assistida por fregueses
do velho clube de jazz. Os dois abandonados esperavam alguma coisa má - não nessa
forma e conteúdo.
No mundo polígamo quem está em maioria nem
sempre ganha, aliás, quase sempre perde. Estávamos ali para isso. Receber o que
restou de cinco anos de vida a três. Ela parecia tranquila, como estivesse
informando a próxima música. Tal comportamento nos deixou ainda mais
desgraçados e sem forças de reação. Pensei em ficar enfurecido, mas desisti.
Não havia impulso e parei na zona intermediária da decepção. Meu sócio nessa
empreitada ficou assustado, sem outro sentimento classificável além do medo.
2 comentários:
Esse escreve com a alma!
Lula, fui na Sariva, fui na Cultura, fui na Imperatriz. Em nenhuma das três encontrei seus livros: "todo dia me atiro" e "iberê".
Por gentileza, já que vc aqui (Recife) lançou -no Central- seu último, onde, em que livraria da cidade você os deixou para que a gente possa encontrá-lo para adquirí-lo?
Grato,
Macedo
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