De repente, o sujeito para e conclui não
estar entendendo nada. Entende a seu jeito, baseado no passado, mas não há
valia para predileções fora de época. Isso passou; já era. Parece que foi
ontem, mas não foi, acabou a festa.
Durante anos, já na meia idade, ele tentou
acompanhar os modos e costumes em voga, a nova coreografia e o comportamento
dos mais jovens. Desistiu antes de a velhice chegar inteira e agora pergunta o
que resta.
O personagem já esteve aqui, em outra
história. Era enturmado com jovens, frequentava suas festas e conhecia algumas
intimidades, especialmente das meninas. Nada demais – só retórica -, pois no
dia em que tentou acesso a prazeres juvenis, via uma ex-aluna, sentiu que
estava vencido pelo tempo. A moça queria uma pessoa da idade dela, também da
turma, e revelou sua opção com cuidado para não ferir a alma do velho
professor.
Então, ele recolheu-se. Gasta seus últimos
anos com literatura, sem entusiasmo para mulheres de sua idade. O vigor das
jovens, mesmo sob a inocência, ainda é a razão da vida, mesmo sem o contato
direto. Agora, enquanto recusa polidamente apelos das contemporâneas, o velho
só observa de longe a passagem do tempo e a passagem daqueles corpos viçosos em
qualquer lugar público ou privado. Trocou laços de afetos, alguns sinceros,
pelo prazer de olhar as meninas.
Aliás, a vida só não é incômoda por isso,
embora traga culpa, pois não é um hobby, talvez seja um vício ou doença. Talvez
apenas uma maneira de ver o mundo – ele não tem respostas, segue o fluxo.
Aproveita o fato de ser quase invisível e filma discretamente suas meninas em
cenários estratégicos: banheiros, academias de ginástica, motéis e bares.
À noite, ele revê as imagens com nostalgia
e comportamento respeitoso.
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