“Olha
para a câmera, meu bem ”, disse a assistente à atriz, quase em tom de deboche.
De vez em quando era ela quem gritava “ação”, pois o diretor nem sempre estava
no set, quase nunca, para falar a verdade. Estava em outro país,
supervisionando as filmagens da franquia. Até em suas férias, o mundo do cinema
girava e a imensa rede do diretor mantinha o ritmo de cem filmes por ano. Todos
assinados por ele.
Na
verdade, quem estava em cena era uma das nossas divas, uma Fernanda Montenegro
desta quadra do tempo, levando esporro de uma estagiária e segurando o choro e
a saudade da TV. Tudo é possível depois que o cinema virou uma indústria de
verdade, sem preocupações estéticas, cheio de ações Dow Jones. O mundo voltou a
ter seis artes.
Os
filmes de agora contam basicamente a mesma história, mas há lotes com algumas
variações, de acordo com a cultura do lugar. A Vingança 17, por exemplo, se
passa no Brasil, com personagens locais. Não há mais filmes brasileiros. O
mercado mundial está dominado pelo diretor e seu concorrente, apesar das denúncias
de formação de cartel.
Alguns
ainda lamentam o fim do cinema de autor e recorrem aos dois cineclubes do Pais.
Enquanto isso, as sessões de Vingança 17 – Brazil estão lotadas. Máquinas
velozes e ferozes correndo pela Avenida Vieira Souto, embicando em Foz do Iguaçu
e surgindo no Pelourinho, onde toca o Olodum . Troca de tiros e explosões no
sambódromo. Eis o máximo que temos no campo da regionalização.
O
diretor-produtor-empresário também canibaliza o que o velho cinema produziu,
embora não leve em conta os diálogos, especialmente os de filmes europeus, e
acima de tudo se repete, e repete a fórmula que traz público: coisas correndo,
coisas atirando, coisas explodindo e gente morrendo. Os cinéfilos são raros. O
público que está no cinema poderia estar numa montanha russa. O que se procura é
emoção em estado bruto, descargas de adrenalina. Nas partes mais animadas do
filme, a platéia ensaia uma ola.
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