sexta-feira, 1 de maio de 2015

Bloco de notas


Esfolados ao fim de mais uma, quase exaustos, mas ainda dispostos para outra sequência, já era noite e nenhum percebeu. Sumiu o fio de luz saindo do furo da cortina e mesmo assim seguiram adiante pela simples razão de que estava ótimo. Todos os compromissos foram adiados naturalmente apenas com o passar do tempo entre flexões e o movimento dos líquidos.  Aproveitamento total da vida curta, sentidos acesos, amanhã será o desconhecido e, que bom, só foi mais um dia. Tomaram caminhos opostos depois do breve Motel Paraíso, mas não perderam o contato. Às vezes passavam anos sem se falar; às vezes passavam semanas trancados no quarto.

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As redes sociais mudaram desde sua partida, em agosto, mas nem tanto. Agora, o Facebook também é uma teia de situações reais. Saiu das telas para bares climatizados, azuis e brancos, em todo o mundo, das Ilhas Virgens a Ouricuri. Nessas casas de bebidas à farta e alegria a todo custo, as pessoas dizem na cara o que estão pensando, dão cutucadas de verdade, estabelecem relacionamentos seríssimos e fazem selfies para publicar no facebook virtual, que ainda permanece como regulador de nossos usos e costumes.

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Vem morar comigo. Faremos um casamento tranquilo, sem sobressaltos e ciúmes. Não precisa ter sexo, caso você não queira. Caso você queira, vamos pensar. A esta altura não queremos grandes emoções. Infelizmente fazem mal à saúde. Nem sinto tanta falta de doce de leite, sinto mais falta de ficar emocionado, mas passa se estivermos juntos. Então, nosso casamento será assim, sem emoções, por ordem médica, pois qualquer desejo é danoso à saúde; à nossa, principalmente.

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O W é uma letra hostil e desajeitada. Espeta, não se deixa acariciar e alguém caído do céu poderia enfiar-se em suas pontas e morrer cravado por esses punhais do alfabeto. O W é um M como tartaruga virada de costas, esperneando, louca para voltar a ser M.

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