Esfolados ao fim de mais uma, quase
exaustos, mas ainda dispostos para outra sequência, já era noite e nenhum
percebeu. Sumiu o fio de luz saindo do furo da cortina e mesmo assim seguiram
adiante pela simples razão de que estava ótimo. Todos os compromissos foram
adiados naturalmente apenas com o passar do tempo entre flexões e o movimento
dos líquidos. Aproveitamento total da
vida curta, sentidos acesos, amanhã será o desconhecido e, que bom, só foi mais
um dia. Tomaram caminhos opostos depois do breve Motel Paraíso, mas não
perderam o contato. Às vezes passavam anos sem se falar; às vezes passavam semanas
trancados no quarto.
(-)
As redes sociais mudaram desde sua partida,
em agosto, mas nem tanto. Agora, o Facebook também é uma teia de situações reais. Saiu das telas para bares climatizados, azuis e brancos, em todo o
mundo, das Ilhas Virgens a Ouricuri. Nessas casas de bebidas à farta e alegria
a todo custo, as pessoas dizem na cara o que estão pensando, dão cutucadas de
verdade, estabelecem relacionamentos seríssimos e fazem selfies para publicar
no facebook virtual, que ainda permanece como regulador de nossos usos e
costumes.
(-)
Vem morar comigo. Faremos um casamento tranquilo,
sem sobressaltos e ciúmes. Não precisa ter sexo, caso você não queira. Caso
você queira, vamos pensar. A esta altura não queremos grandes emoções.
Infelizmente fazem mal à saúde. Nem sinto tanta falta de doce de leite, sinto
mais falta de ficar emocionado, mas passa se estivermos juntos. Então, nosso
casamento será assim, sem emoções, por ordem médica, pois qualquer desejo é
danoso à saúde; à nossa, principalmente.
(-)
O W é uma letra hostil e desajeitada. Espeta, não se
deixa acariciar e alguém caído do céu poderia enfiar-se em suas pontas e morrer
cravado por esses punhais do alfabeto. O W é um M como tartaruga virada de costas,
esperneando, louca para voltar a ser M.
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