- Não, assim não dá -
gritou a dona da agência de ofensas, diante de seu diretor de criação, também
turvado pelo fracasso. Preocupada com a qualidade dos seus produtos e serviços
numa área relativamente nova, mas já embicando para a decadência - igual a tudo
nesses dias, aliás -, ela repetiu várias vezes que muitas frases ali produzidas
tinham perdido a capacidade de insultar, constranger, incomodar, perdendo-se
por efeito a essência de seu ramo de negócios – Estamos de volta à estaca zero,
aos anos cinquenta, e outro dia li aqui que determinado politico "é um
câncer a ser extirpado". Não funciona mais.
Silêncio na sala
- Precisamos eliminar
certas expressões do nosso vocabulário – argumentou a dona. - Vamos parar de
usar energúmeno, canalha, bandido, ladrão,
sacripanta e nojento. Nossos alvos nem ligam mais para isso, se acostumaram
a serem chamadas assim, introjetaram, como diziam antigamente. Talvez gostem
desses nomes e talvez seja o caso de usarmos coisas mais objetivas no lugar de
palavras.
Com o tempo, a
agência de ofensas deixou de atuar apenas no plano verbal e agregou novos
conteúdos, criou novas divisões e uma delas abrigava mercenários capazes de
entregar ao cliente resultados mais palpáveis, como dedos e cabeças preservados
num cooler, por exemplo.
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