sábado, 18 de julho de 2015

Negócios virtuais


- Não, assim não dá - gritou a dona da agência de ofensas, diante de seu diretor de criação, também turvado pelo fracasso. Preocupada com a qualidade dos seus produtos e serviços numa área relativamente nova, mas já embicando para a decadência - igual a tudo nesses dias, aliás -, ela repetiu várias vezes que muitas frases ali produzidas tinham perdido a capacidade de insultar, constranger, incomodar, perdendo-se por efeito a essência de seu ramo de negócios – Estamos de volta à estaca zero, aos anos cinquenta, e outro dia li aqui que determinado politico "é um câncer a ser extirpado". Não funciona mais.

Silêncio na sala

- Precisamos eliminar certas expressões do nosso vocabulário – argumentou a dona. - Vamos parar de usar energúmeno, canalha, bandido, ladrão, sacripanta e nojento. Nossos alvos nem ligam mais para isso, se acostumaram a serem chamadas assim, introjetaram, como diziam antigamente. Talvez gostem desses nomes e talvez seja o caso de usarmos coisas mais objetivas no lugar de palavras.



Com o tempo, a agência de ofensas deixou de atuar apenas no plano verbal e agregou novos conteúdos, criou novas divisões e uma delas abrigava mercenários capazes de entregar ao cliente resultados mais palpáveis, como dedos e cabeças preservados num cooler, por exemplo.

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