O homem sem sentido rabiscava letras e sinais sem sentido para
dar trabalho aos historiadores e arqueólogos. Gravava em pedra, com tinta
resistente ao tempo, marcas sem pé nem cabeça, bichos inexistentes, objetos
desconcertantes e inúteis e frases nunca ditas por personagens imaginários e
improváveis. Fez disso a sua vida, apesar dos remédios para impulsos não
desejáveis e da perplexidade dos parentes.
Não veria seus descentes às voltas com o mistério nem mesmo
saberia se sua mensagem chegaria intacta e legível até ser encontrada milênios à
frente. O homem sem sentido queria apenas imaginar diversos cenários sobre sua
iniciativa pioneira, entre a arte e a loucura. Mas o futuro lhe reservou uma
surpresa – haveria alguém para decifrá-lo lá adiante no tempo e uma lógica
enfim caberia em sua deliberada falta de lógica.
O homem sem sentido está morto há eras e agora estudam suas
peças em institutos especializados, academias reais e museus antropológicos. A
tese predominante, quase uma certeza entre paleontólogos, é que os códigos
primitivos e engenhosos do homem sem sentido indicavam uma cadeia de
acontecimentos responsável pela que somos hoje. Ponto a ponto explicado, peças
encaixadas, datações confirmadas por radio carbono.
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