Tudo pronto para quase nada. Espetáculo Infinitesimal
em dois atos. No primeiro, escuro completo; no segundo, silêncio total. Não há
cadeiras na plateia e o público não é visto a olho nu. Só existe teoricamente
nesta nova montagem de Hamlet. A questão, no entanto, está posta: ser ou não
ser? Os críticos se dividem. Um deles, neologista, chamou a peça de miniminimalista,
assim, sem hífen. Outros consultaram físicos de partículas. Em todo caso, houve
uma profusão de elogios à linguagem enxuta e concisa, pois tudo foi comprimido
à pergunta essencial, sequer pronunciada, mas sugerida de forma sutilíssima por
um ator que sequer estava em cena.
A vaga e célebre montagem veio para mudar
nossa acomodada noção de diversão e arte. Agora, dizem, não é mais nada daquilo
que conhecíamos como teatro, embora a fórmula já tenha sido tentada, no século
passado, numa peça sobre o Gênesis, onde também não havia atores. O big-bang
bíblico teve alguns inconvenientes. Quando Deus disse “haja luz”, não houve,
por questões técnicas com a iluminação. Mesmo assim, o Todo Poderoso seguiu
adiante, clamando pela expansão no meio das águas e aí, de fato, peixinhos de
papel crepom circularam ao redor da arena, amarrados em fios de nylon, bem
perto da arquibancada, quase diante dos nossos olhos. Arrancou surpresas e
aplausos. Mas foi só.
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