De
repente voltamos a viajar de navio. Muita gente sem condições de pagar uma
passagem aérea, então eles fretam navios, enchem de gente e soltam pelos portos
do mundo. Assim, fomos nos diluindo. Fiquei por cansaço e falta de dinheiro.
Um
monte de avenidas vazias. Ruas inteiras partiram. O mato cresce em bairros
desabitados e o comercio registra queda todos os meses. Empregadores e
empregados enfim chegaram a um acordo: não tem jeito. Por isso não achei
estranho quando vi meu antigo patrão embarcando no navio. Só o cais ainda tem
algum movimento. O transporte para o outro lado do mundo é o único negócio
lucrativo.
Acordo
cedo para arrumar comida, mas as filas são tumultuadas em frente aos caminhões
da caridade. Não dá para todo mundo. Às vezes, uma pessoa gasta uma refeição no
esforço de consegui-la. É uma luta até chegar perto, enfiar a mão entre muitas
outras e dar o bote na cesta básica. Sempre desisto e volto ao meu pequeno
estoque de enlatados – sardinhas e salsichas. Houvesse pão, faria sanduíches.
Agora
é esperar por uma solução vinda de não sei onde. A informação ficou precária e
nesse ramo ninguém confia em ninguém. Dai a dificuldade para entender o que se
passa, por que chegamos a isso e aonde iremos parar. Muita gente daqui se enfadou
de pensar no assunto. Os que partiram sonham com uma pátria que não existe
mais. Os que ficaram só pensam em comer.
Portanto
não confio nas informes públicos, divulgados semanalmente. Não confio nas vagas
esperanças de uns poucos. Falo o que vejo: bares vazios, filas para diversas
providências de embarque, crianças procurando por seus pais. O frenesi do porto
e o lixo sob a chuva
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