De repente, todos surgiram no deserto de
Gobi, no meio do nada, sem saber por que foram parar ali em questão de
segundos. Estavam em seus gabinetes, emitindo ordens, quando uma luz azul transpassou
os vidros das janelas e arrastou cada átomo de cada ministro para uma viagem
inesperada. Todos ficaram assustados com a paisagem - dunas móveis de areia e,
lá adiante, montanhas de até 800 metros de altitude. Nômades a cavalo e a
camelo estranharam a presença daquele primeiro escalão em suas terras, mas a caravana
seguiu adiante, deixando para trás perguntas sem respostas. Mesmo porque nenhum
dos transportados falava mongol.
Na capital, quando os repórteres de política
ligavam para os ministérios atrás de novidades, a novidade era a ausência dos
ministros. O mesmo ocorreu no parlamento. Parte da bancada também sumiu sem
mais nem menos e o fenômeno chegou a ser presenciado por assessores. “Ele foi
ficando transparente e desapareceu”, contou uma secretária da liderança
governista.
Em Gobi, sob uma temperatura de 40 graus –
sorte deles; no inverno é o contrário -, as aturdidas autoridades nacionais
estavam entre o susto e a necessidade de livrar-se dele, de preferência com
ansiolíticos que levam nos bolsos e nas bolsas e que foram engolidos sem água. Em
seguida, tiraram os celulares e não havia sinal. Só então olharam de forma mais
cuidadosa para o deserto sem fim.
- O que é isso pelo amor de Deus? –
perguntou o ministro dos Negócios Exteriores, o mais acostumado a viagens, mas
não as desse tipo.
Para os mais religiosos, aquilo poderia ser
obra de um Moisés turbinado, carregando os seus à velocidade da luz – quarenta
anos em milésimos de segundos. O
ministro da Cultura pensou em algum happening de artistas da oposição, à base
de drogas, enquanto outro notável da república puxou seu cantil de Jack Daniels
e entornou a metade. Não houve perguntas sobre o porquê de estarem ali, mas “como”
foram transportados tão bruscamente. O ministro do cantil, agora mais
tranquilo, achou que já vira algo parecido num documentário de ciência. As
lideranças mais destacadas, no entanto, já especulavam a respeito da
repercussão do episódio na opinião pública.
No país, o caso foi tratado com cautela
pela imprensa. Talvez as autoridades estivessem reunidas em algum lugar
sigiloso para tomar medidas inadiáveis para a economia e a política. Ficou essa
versão.
Do jeito que foram, voltaram. No mesmo dia
os ministros e congressistas estavam de volta a seus gabinetes, emitindo
ordens, mas atentos à cor da luz que transpassava as janelas.
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