Não houve dores do parto. Ele veio ao mundo
por outras vias, sem pai nem mãe, construído a partir de células desconhecidas,
cultivadas durante anos. Seu nascimento,
ou apenas início, ocorreu em 20 de maio, às 14h20, conforme paper escrito pelo
professor emérito, criador da criatura. De resto, era um bebê normal, de três
quilos e oitocentos gramas, rosto rosado, ralos cabelos pretos e nariz núbio.
Não chorou porque não estava previsto que chorasse. Abriu os olhos, observou ao
redor e fez cara de quem já conhecia o ambiente.
Na primeira infância estava destinado – ou
programado – para atividades muito mais complexas do que encaixar triângulos em
buracos com formato de triangulo. Nos primeiros dias se entediou com os testes
de memória. Lembrava-se nitidamente de tudo, inclusive de partes do futuro, mas
não lhes perguntaram sobre ideias e planos. Aos dois anos, falava com fluência
vários idiomas.
Aos três anos, o protótipo foi desativado.
Criou muito caso, brigou com cientistas e questionou aspectos cruciais do
projeto que lhe deu origem.
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